quinta-feira, outubro 26, 2006

Estão aí os Outonos de Teatro, em Portimão

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Las Meninas, de Diego Velásquez


Na terça-feira passada, pela noite, lá estava eu, sentado na plateia, para assistir a uma peça de teatro - Meninas - com a assinatura de uma companhia sedeada em Salamanca - Intrussión.
Os folhetos de divulgação desta iniciativa da Câmara de Portimão, pelos menos aqueles a que tive acesso, em papel e através da Internet, não elucidavam de todo sobre esta companhia de teatro. Li, sim, um pequeno apontamento descritivo do que se propunha esta companhia apresentar; nem sequer dava para entender de que se tratava de uma companhia espanhola, tanto mais quanto a designação usada se referia à sua distribuidora e não à companhia produtora.
Quando me decidi comparecer, assim um pouco como "um tiro no escuro", foi exactamente por saber que "o pintor chamará ao seu estúdio, uma a uma, todas as personagens que aparecem em AS MENINAS. Velázquez irá interagir com cada uma delas, tendo o espectador a oportunidade de descobrir doze maneiras diferentes de ver a realidade espanhola do século XVII".

Servida por um elenco homogéneo, com alguma solidez interpretativa, assisti com agrado à representação. Como não conhecia a dramaturgia, fiquei em dúvida sobre se algumas das coisas que me desagradaram se deviam ao autor ou ao encenador. Agora, em casa, consultando o site da companhia, pude entender que tanto o texto como a encenação são da mesma pessoa - Roberto García Encinas. Também me apercebi que se trata de uma companhia com hábitos de trabalho junto de público jovem, estudantil, em contextos de sala, calle o cabaret.
Nesta perspectiva, entendo então que as doze maneiras diferentes de ver a realidade espanhola do século XVII surjam tão simplistas, como um "piscar de olhos" aos "tiques" da sociedade europeia da actualidade, a solicitar o riso e o divertimento fácil. Esse entendimento justifica também a minha estranheza pelo recurso a atitudes grandiloquentes, a poses demoradas, a gesticulação lenta e prolongada, que se usavam para reverenciar os "grandes vultos da História" ou sacralizar as "grandes obras de arte", como era hábito das representações "burguesas" de finais do século XIX e que permanecem, ainda no nosso tempo, em alguma estética ultrapassada por conceitos artísticos mais recentes.

Um apontamento algo desgostoso sobre a luminotecnia, estranha, tão estranha que até parecia haver qualquer problema eléctrico na sala.
Acabei por aplaudir o espectáculo no mínimo, reconhecendo tão só o traquejo interpretativo dos actores

É certo que fiquei a conhecer melhor as figuras que compõem o quadro de Velásquez, mas mais pelo nome e seu lugar na corte do que propriamente pelos estereótipos apresentados.
Concedo que o meu desagrado tenha a ver com a minha idade, pois tratava-se de um trabalho de divulgação para a juventude, na qual se aposta hoje em dia nestes espectáculo/divertimento, como meio de a trazer às salas de teatro, para depois não se lhe oferecer a arte do teatro, que deve ser inovadora, divertida também, mas porque incentivadora da capacidade crítica, a favorecer a reflexão e o entendimento deste mundo, que é, afinal, o que compete a quem se ocupa do acto cultural.
Mas os Outonos de Teatro ainda estão aí, pelas mãos de grupos regionais, como o Teatro da Estrada, ou de expressão nacional, como o Grupo de Teatro de Montemuro e O Bando. Há também lugar a uma estreia - Ricardo III, pela ACTA (A Companhia de Teatro do Algarve).

P.S.
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