sexta-feira, setembro 26, 2003

Al-Mu'tamid, pela voz de outros poetas


O poeta é Sergio Macías, nuestro hermano.

  • CANÇÃO A UM REI ÁRABE (fragmentos)


    Portugal sua semente
    Sevilha sua altivez
    sua alma, mesquita d'amor
    seu sangue, pomba d'aurora.

    Mu'tamid canta em Silves
    entre harpas de loureiros
    e canções de oliveiras.



    não há espada que lhe rompa
    a armadura da palavra.
    e caem constelações
    sobre o eflúvio dos rosais.

    Ibn 'Ammar, entretanto,
    vai caminhando envolto
    num manto que é o da morte
    para a Porta das Palmeiras (1)



    Mu'tamid e 'Itimad (2)
    vão traçando mocidade
    sob a lua dos silêncios

    a face de Sevilha se converte
    em escura flor, lágrima de chuva,
    pelo rei do amor
    e poeta do vinho.



    em Aghmat o deserto (3)
    terra de luz e nostalgia.
    aí cai o sol
    como punho de âmbar
    erguendo a primavera
    e da tumba os versos seus.

in A PHALA, Junho, nº 49
Assírio & Alvim, Lisboa 1996

(1) Ibn 'Ammar foi sepultado no exterior do palácio de Al-Mu'tamid (Al-Mubarak), em Sevilha, junto à Porta das Palmeiras.

(2) Sobre Al-Mu'tamid e 'Itimad remeto para uma minha nota a um poema, de outro autor espanhol, que também toma Al-Mu'tamid como um arquétipo.

(3) Al-Mu´tamid, rei de Sevilha, foi deposto na sequência da invasão dos almorávidas (finais do séc. XI) e deportado para Aghmat, perto de Marraquexe, onde acabou por falecer e onde jaz, junto aos túmulos de sua esposa e de uma filha.

(Notas do blogador)


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