terça-feira, setembro 30, 2003

O Poço da Câmara


Para que possa acompanhar com clareza o que lhe vou contar, convém que proceda à leitura dos textos que os links lhe sugerem.

A história começou com O fim do "bunker", em episódio com data de 14 de Julho, quando nos congratulámos com o derrube de um edifício, de péssima plastia e inadequado ao local, que a Câmara Municipal decidiu derrubar. Desejámos, ao tempo, uma rápida intervenção.

Ao longo de mais de uma semana sobre os votos de rápida intervenção aqui expressos, fomos verificando que, colocada a cerca envolvente, bastante precária por sinal, deixando adivinhar que as obras iriam continuar, tudo permaneceu inexplicavelmente parado, o que deu motivo a outro episódio, que designámos por A Cratera, com data de 23 de Julho.

Já lá vão mais de dois meses e a situação mantém-se inalterada: deu-se início a uma obra, que agora parece não ter fim.
Apetece perguntar porque foi que a iniciaram se não havia intenção de a terminar, mas creio que não vale a pena, pois de há um pouco mais de duas semanas atrás um novo elemento se acrescentou ao caso:

A Placa
Silves e Rua Bernardo Marques, 29SET2003, © António Baeta Oliveira
Ah! Finalmente se divulga ao grande público a aparência final da zona intervencionada.
Finalmente, também, as obras irão ser retomadas.

Qual o quê?
Agora com o esforço gasto na produção da placa, vão estar parados mais um tempo, pois até estão a pedir desculpa aos cidadãos.
Até me arriscaria a sugerir uma sondagem arqueológica, para justificar o tempo parado, mas o pior é se encontravam alguma coisa e ficávamos com o mesmo serviço das outras obras paradas - as da futura Biblioteca Municipal.
Há mesmo coisas que não dá para entender.
O problema é que tudo parece ir complicar-se.
Já se prevê chuva, o que simplesmente irá prejudicar os trabalhos e, tão grande buraco, numa rua com um declive acentuado, que desde a zona da muralha, em cima, apresenta um solo pouco permeável, com pedra, e mais abaixo impermeável, com alcatrão, irá perder a designação de "cratera" e passar a ser conhecido como o "Poço da Câmara".
Problema maior ainda porque o "poço" poderá não ter capacidade para suster as águas, provocando uma inundação na zona.
Atenção ainda à precariedade da cerca e sua sustentação.
    - Estes cenários são catastróficos. Nada disto irá acontecer.
Espero bem, sinceramente, que nada aconteça. Mas, por favor, retirem a placa das desculpas e só a coloquem quando recomeçarem as obras, porque só assim terá algum sentido desculpar-vos.
E melhorem Silves que é o que todos queremos!

P.S. A chuva, se bem que miudinha, já começou.
As obras da futura Biblioteca Municipal voltaram a funcionar, segundo me pude aperceber pelo movimento da grua.
Esperemos que as coisas também avancem com o "bunker", aliás "cratera", desculpem, "poço da câmara", melhor, requalificação urbana da rua Bernardo Marques.


segunda-feira, setembro 29, 2003

Outra silvense na poesia


As-Silbia (sécs. XII-XIII) foi a primeira mulher muçulmana, ao tempo do Al-Ândalus, que divulguei neste meu blog. Também na transicção dos séculos, como todos os que hoje me lêem, há uma outra mulher nascida em Silves - Maryam Al-Ansari (sécs. X-XI) - que se tornou famosa pela sua poesia e pelo ensino de literatura a outras mulheres.

É de Maryam al-Ansari o poema que vos ofereço hoje.


  • QUEM EXCEDERÁ tua bondade
    Ao dares-me aquilo que te não pedi,
    Um colar de pérolas para a minha vaidade.
    Como hei-de expressar gratidão por ti?

    Por este dom eu fico orgulhosa
    E sou, entre todas, a mais leda.
    Ó esplêndida alma generosa
    Torrente de rio e frágil fio de seda.


ALVES, Adalberto
O meu coração é árabe
Assírio & Alvim, Lisboa 1987

sábado, setembro 27, 2003

A pseudo-científica astrologia paga com o dinheiro dos contribuintes


Fui alertado por Aba de Heisenberg, que cita Klepsýdra, que por sua vez remete para James Randi Educational Foundation, para a existência de uma petição, assinada por 35 académicos portugueses, protestando contra a contratação de uma astróloga, no programa Praça da Alegria, no canal 1 da RTP, Televisão oficial do Estado Português, suportada pelo dinheiro dos contribuintes, num momento em que se efectuam cortes orçamentais na investigação e no ensino.
A petição é ainda assinada por Georges Charpak, Prémio Nobel da Física em 1992.

Transcrevo o texto da petição, sem arriscar uma tradução deficiente:

  • " The undersigned persons wish to express their concern about the financing of astrologers by the Portuguese State, and ask for the correction of this anomalous situation as soon as possible. The most serious and visible case is the one of astrologer Cristina Candeias, to whom the State pays a monthly sum, probably well above the minimum wage, for her participation in the daily show "Praça da Alegria" on Channel One of the RTP (Portuguese Television). We suspect that there are similar cases on other public service media. The company "SAPO" uses an astrologer. It is unclear whether this service is paid with public or with private funds, since the company is related to Portugal Telecom. It would be important to identify and cease payments to all individuals exhibiting these pseudo-scientific activities on state-sponsored media.


    Our main arguments are these:


    1. Incompatibility with budget strictness - Recent measures to control public spending have included budget cuts on investigation and on teaching. One consequence of this has been a reduction of scholarships from the "Fundação para a Ciência e Tecnologia (Science and Technology Foundation)", thus creating unemployment and uncertainties in an area involving highly-qualified people, an extremely sensitive and critical part of the country's development that demands a continuous effort, so that Portugal will reach a "critical mass" of investigators in several areas of science and technology. It's nonsense that this same State should be funding pseudo-scientific activities like astrology, that are not recognized by the State itself.


    2. Pedagogic immorality - Mrs. Cristina Candeias alone has more weekly coverage via public television, than all the country's scientists and all educational and investigative institutions. This is even more immoral when the State finances, on a live, highly visible public TV service, actions which deny and distort all the concepts being taught to thousands of students in public schooling.


    Our request demands no modification to Portuguese legislation, only that it be strictly applied, as is its due in a democratic state. "


Outros actos de charlatanice, mesmo sem a contribuição dos dinheiros públicos, abundam por aí noutras televisões, jornais e revistas, fazendo-se passar pelo que não são.
Parafraseando Sérgio Godinho: "Pode alguém ser quem não é?"

sexta-feira, setembro 26, 2003

Al-Mu'tamid, pela voz de outros poetas


O poeta é Sergio Macías, nuestro hermano.

  • CANÇÃO A UM REI ÁRABE (fragmentos)


    Portugal sua semente
    Sevilha sua altivez
    sua alma, mesquita d'amor
    seu sangue, pomba d'aurora.

    Mu'tamid canta em Silves
    entre harpas de loureiros
    e canções de oliveiras.



    não há espada que lhe rompa
    a armadura da palavra.
    e caem constelações
    sobre o eflúvio dos rosais.

    Ibn 'Ammar, entretanto,
    vai caminhando envolto
    num manto que é o da morte
    para a Porta das Palmeiras (1)



    Mu'tamid e 'Itimad (2)
    vão traçando mocidade
    sob a lua dos silêncios

    a face de Sevilha se converte
    em escura flor, lágrima de chuva,
    pelo rei do amor
    e poeta do vinho.



    em Aghmat o deserto (3)
    terra de luz e nostalgia.
    aí cai o sol
    como punho de âmbar
    erguendo a primavera
    e da tumba os versos seus.

in A PHALA, Junho, nº 49
Assírio & Alvim, Lisboa 1996

(1) Ibn 'Ammar foi sepultado no exterior do palácio de Al-Mu'tamid (Al-Mubarak), em Sevilha, junto à Porta das Palmeiras.

(2) Sobre Al-Mu'tamid e 'Itimad remeto para uma minha nota a um poema, de outro autor espanhol, que também toma Al-Mu'tamid como um arquétipo.

(3) Al-Mu´tamid, rei de Sevilha, foi deposto na sequência da invasão dos almorávidas (finais do séc. XI) e deportado para Aghmat, perto de Marraquexe, onde acabou por falecer e onde jaz, junto aos túmulos de sua esposa e de uma filha.

(Notas do blogador)


quinta-feira, setembro 25, 2003

A Alquimia do Medronho (conclusão)


É tempo de terminar este meu texto, iniciado há dois dias.
  • (...)
    Passado algum tempo, do tubo final da serpentina, que despontava ao fundo da parede do pilão, sobre uma vasilha de plástico, começava a sair um líquido morno, meio turvo.

      - Isto já é medronho, Sr. José Joaquim?

      - Ainda não. Isso é a frouxa. Quer ver?

    Partiu um pauzinho pequenino e com ele revolveu um pouco daquela "frouxa" que havia recolhido num cálice de vidro.

      - Está a ver? Ainda não faz bolhas. Quando fizer bolhas, que se fiquem durante algum tempo, então já é medronho. 'Tá a ver este ferro aqui, ao pé da chaminé? É o registo. Puxo ou empurro um bocadinho para que a saída do medronho seja sempre a mesma. É que o correr do medronho tem a ver com a temperatura do forno e não se pode deixar afogar. Isto é como uma criatura viva. Se lhe tapo o ar, o fogo morre afogado.

    E, como se falasse de um filho doente, carenciado de cuidados, continuava:

      - Quando 'tou no fabrico não saio daqui. Só p'ra ir buscar uma "bucha" ou fazer qualquer coisa assim rápido. Tenho que estar sempre a vigiar.

    Tomou na mão o que me pareceu um tubo, rolhado. Era de cana e continha um instrumento que mais parecia um termómetro. Mergulhou o tubo no líquido, que da serpentina corria lenta e regularmente para a vasilha, encheu-o e nele colocou o tal "termómetro".

      - 'Tá mesmo boa. 'Tá a sair aí com uns 20 graus, quase 21.

    Era um densímetro, um "pesa espíritos", que mergulha mais ou menos conforme a densidade do líquido e cuja escala indica a graduação alcoólica do medronho.

      - Agora faz uma aljofa boa!

      - Aljofa, Sr. José Joaquim?

      - Sim. As bolhas - explicou - quer provar?

    Um calorzinho saboroso espalhou-se-me pelo estômago, um delicado sabor adocicado, a medronho, chegou-me ao paladar e, ao respirar, um cheiro inebriante atravessou-me o nariz. Era a água-ardente de medronho, de sabor que há muito não experimentava e que já raramente reconheço nos restaurantes ou nos cafés quando o bebo no convívio entre amigos.

      - É que agora há pr'aí muita falcatrua! Até já se fabrica medronho sem medronho - brincou, jocoso - devia haver uma protecção ao fabricante e até uma fiscalização, para reabilitar o nome desta bebida. Olhe que eu já fui premiado numa feira de artesanato. Até tenho uma fotografia com aquela senhora que organiza a feira. Não a conhece?




Na sequência destes incêndios que destruíram grande parte da floresta, interrogo-me quanto à produção de medronho e à sobrevivência económica desta gente que vivia dos produtos da serra.
Curiosamente, o Sr. Ministro da Agricultura tem hoje agendada uma visita a Silves para um debate sobre as consequências do fogo e o ordenamento florestal.

quarta-feira, setembro 24, 2003

A Alquimia do Medronho


O texto - A aldeia abandonada-Talurdo - que transcrevi para um dos posts de ontem, fazia parte de um texto maior, com o título desta minha entrada e o subtítulo - À dimensão do corpo e dos sentidos - cuja continuação prometi para hoje.
Junto, como que por sugestão de um comentário de ontem, do Manuel Ramos, uma fotografia do Talurdo, ao tempo daquela escrita (Janeiro de 1994).

  • (...)
    Naquele Sábado voltámos à Serra, mas a outro lugar. Fomos a casa do Sr. José Joaquim na hora de fabricar medronho, produção que concluímos ser uma das grandes bases económicas da aldeia. No Talurdo o medronho também já não vivia.

    Vimo-lo então naquela manhã de Sábado. A dorna então vazia estava agora cheia de medronhos e água, desde há mais de um mês, fermentando. Um cheiro acre invadia as narinas e o gosto açucarado do fruto do medronheiro, que tínhamos provado no Talurdo, desaparecera já, num fruto que provámos retirado da dorna. Foram precisas muitas horas, muito suor, muitos rasgões de silvas na pele e na roupa, para apanhar aquelas nove a dez arrobas que ali fermentavam.

      - Não. Não é preciso pesar! Toma-se a olho.

    Limpa a caldeira, de cobre a rebrilhar, aceso o forno de lenha de pinho e de eucalipto, ou até de esteva, a crepitar, é a vez do conteúdo da dorna seguir outro caminho. Com os medronhos já na caldeira, o Sr. José Joaquim foi buscar uma prancha de cortiça que cobriu com um pouco de serrapilheira, talvez dos sacos do adubo, colocou-a sobre o forno, junto à caldeira e ajoelhou-se nela, sentado sobre os pés. Era um árabe em oração. Segurou na pá e em movimentos arredondados, amplos, quase baléticos, foi mexendo aquela massa enquanto lhe misturava água, que ali chegava num tubo proveniente da mina próxima.

      - Quanta água põe agora Sr. José Joaquim?

      - Isto é um sentir. Quando puser a pá aqui em pé e ela tombar com um certo jeito, é tempo de fechar a água e, assim que ferva, colocar o cabeção.

    Aprontou o cabeção, colocou-o devagar sobre a caldeira acertando o tubo na serpentina, mergulhada em água no pilão ao lado. Mostrou nas suas mãos o que parecia ser um bolo de massa fresca, que dividia em pequenas porções e colocava nos encaixes do cabeção e da caldeira.

      - Isto é o "azeite", primeira camada dos medronhos que estavam na dorna. Faz-se esta massa que é uma cola que serve para tapar isto - e apontava os encaixes - p'ró vapor na' sair.
    (...)


Como o texto se alonga, para dimensões que não tornam a leitura atraente, terminarei amanhã. Está bem?

terça-feira, setembro 23, 2003

Silves e Al-Mu'tamid agradeceriam, se possível

Sara Xavier comoveu-me com a sua simpatia, ao publicar um post (Linha de Cabotagem) com uma imagem de Silves e três poemas de Al-Mu'tamid. Agradeço em meu nome, já que Silves e Al-Mu'tamid não o podem fazer.
Nos blogs também se geram amizades.

A aldeia abandonada - Talurdo


O post de ontem foi escrito na sequência de uma viagem de fim de tarde pela Serra de Silves, que não tinha voltado a visitar desde que o fogo a consumiu, em grande parte.
Fui até à aldeia abandonada do Talurdo e aí recordei um texto de uma anterior visita, onde exprimia os sentimentos que me despertaram essa aldeia. Tal como agora.
É um excerto desse texto que vos trago hoje. Amanhã continuarei com o resto.
  • (...)
    A primeira grande impressão é a do peso do silêncio, a impedir o pronunciar de uma palavra, a abafar na garganta o grito que nos apetece fazer sair como forma de quebrar a estranha sensação de mistério que nos invade face aos testemunhos, estranhamente vivos, da presença humana. São as casas vazias onde se adivinha a mãe na cozinha a tratar do jantar, o pai no estábulo de volta dos animais que regressaram à aldeia, ao pôr-do-sol, recebidos pela gritaria alegre da criançada, a avó que à porta chama, ao longe, o neto retardatário, que ali ficou, junto à mina de água fresca ou na margem do ribeiro, absorto no saltitar da água - é que o cair da tarde cava uma tristeza cá dentro, no peito dum homenzinho que anseia tornar-se um homem!
    Não há ninguém.
    Quem teria construído e vivido nestas casas? Como e de que viviam as pessoas que nos esforçamos por imaginar a lavrar aqueles campos, a deslocar as dornas e pipas que ali estão, nos armazéns, a apanhar a lenha que aquecia aqueles fornos de pão, a pôr a albarda abandonada sobre o burrico que os levaria, serra acima, até à povoação mais próxima, para comprar o tecido para o vestido da mais nova, uns sapatos para o Zé, que já estão gastos, um arroz, que sempre batata e couve também cansa, e levar a farinha que o moleiro trabalhou e o medronho que o pai garante como o mais macio que alguma vez aquele alambique tenha produzido.
    (...)


No passado Domingo, no Talurdo, havia uma casa habitada. Não vi ninguém, mas a casa estava caiada, a porta aberta, e a presença humana era denunciada pelo latido dos cães e o cacarejo das galinhas.

O equinócio


Segundo informa o meu Lunabar, pequeno programa de software, hoje, pelas 10h48, entraremos no Outono, com o Sol em Libra (Balança), signo do espírito crítico e do equilíbrio.
Informo ainda que no dia 27, sensivelmente pela mesma hora, relativamente às coordenadas de Silves, (sem garantias, pois tive que procurar manualmente, com elevada probabilidade de erro, no Starry Night, título de um outro programa de software), a lua começará a apresentar os primeiros sinais luminosos do quarto crescente. É sinal para o início do mês árabe de Sha'ban, o 8º do seu calendário, que antecede o conhecido mês de Ramadan.
Se alguém souber como efectuar estes cálculos ou conheça um programa que os efectue, agradeço a informação.

segunda-feira, setembro 22, 2003

O ocaso da Serra de Silves?


Serra de Silves, SET2003, © António Baeta Oliveira
São caminhos que conduzem a nenhures; mesmo a esperança parece não viver mais nos olhos dos mais velhos.
Os mais novos, esses, há muito que se renderam à cidade.

Que a política de reflorestação não se fique por uma política de subsídios. A calamidade já havia começado antes do fogo.

sábado, setembro 20, 2003

Os "marraxos"

Não resisto a transcrever, de Um pouco mais de Sul, este pequeno texto, precioso de ironia:
    Os Marraxos
    O termo «marraxo», em rigor, designava o vendedor ambulante de peixe de armação. Mas em algumas zonas do Algarve o termo generalizou-se e passou a designar indiferentemente o conjunto de pessoas que vivia na orla costeira. Entretanto caiu em desuso. Mas que estranhas contiguidades e relações de ordem etimológica e fonética terão, em seu lugar, levado à vulgarização do termo «mamarracho», usado no mesmo contexto geográfico?

Só se marafa quem enfiar a carapuça!

sexta-feira, setembro 19, 2003

Convém esclarecer


Você é dos que acha que a imigração está directamente ligada ao desemprego, não acha?
Como você também pensa o Dr. Paulo Portas.
  • Veja o que, a propósito, diz José Manuel Fernandes no editorial do Público de ontem e fique sabendo que os imigrantes até contribuíram para a diminuição do défice das contas públicas.

Você está convencido que Saddam está relacionado com o ataque terrorista de 11 de Setembro de 2002, não está?
Como você estão também persuadidos 70% dos norte-americanos.
  • Veja o que a propósito diz Catarina van der Kellen, jornalista da SIC, com Bush a confirmar as recentes declarações de Rumsfeld.

Você é dos que entende que o regime cubano é um exemplo para a humanidade, não é?
A pensar como você há cada vez menos gente.
Valeu a pena esclarecer?

quinta-feira, setembro 18, 2003

The life of...

Cumpridos os afazeres que me levaram à capital (Faro), aproveitei o ensejo para dar um salto a Olhão, procurando almoço.
Quando me decidi por Olhão já no meu íntimo tinha decidido o restaurante, certamente, embora pudesse ter optado por um outro qualquer.
Estacionei na Avenida, junto ao Mercado, e procurei, não um qualquer dos que naquela zona abundam, mas precisamente aquele que, logo à entrada apresenta, em vez de um escaparate igual a tantos outros que por aí abundam, uma série de "caixas de peixe", como as que habitualmente avistamos no próprio mercado, com peixe variado, fresquíssimo, salpicado de sal e que, mesmo ali, podemos escolher e entregar ao encarregado da grelha, logo ao lado, especialista naquele saber de experiência feito.
Optei por três pequenos besugos.
Era também daquele saber que se fez a travessa onde os besugos repousavam sobre azeite (não um resquício de um qualquer óleo azeitado), acompanhado de saborosas (soube logo no momento seguinte) batatas, umas rodelas de tomate, alface e salsa, cortada bem fininha.
Ainda não mencionei a salada, de tomate, pimento e cebola, tudo bem picadinho, regada naquele azeite e temperada com orégãos, servida à parte, numa vasilha de barro.
Que bem que me soube! E tudo tão simples, tão autêntico.

Da mesa atrás chegou-me ao ouvido a conversa de um sujeito que mencionava um local onde se comia assistindo ao show de uns papagaios, seguido de um outro show de qualquer outra coisa, já nem me lembro do quê. Não devem ter gostado do meu modesto restaurante, ou, quem sabe, talvez tivessem gostado mesmo.

Sem compromissos, pela tarde, aproveitei para ir ao cinema: The life of David Gale, Inocente ou Culpado, na versão portuguesa.

Se a ideia de Alan Parker pretendia ser um libelo contra a pena de morte, o título da versão portuguesa não faz sentido, pois não interessariam a inocência ou a culpabilidade; se, tão simplesmente, a intenção de Alan Parker foi contar uma história policial, acho bem o título da versão portuguesa.
Decido-me pela versão portuguesa e pelo conto policial.
É que, se se pretendia lutar contra a pena de morte, na minha modesta opinião prestou-se um mau serviço.
Aquilo que, creio, ficará na mente das pessoas, depois de se ter esquecido tudo o resto, é a de que estes militantes de causas minoritárias são todos uns fanáticos, capazes de tudo pelas suas ideias.

Que me dizem os meus leitores habituais, de cuja convivência fiquei ontem privado, dadas as lides que vos descrevi: Inocente ou Culpado?

terça-feira, setembro 16, 2003

Em Cacela, sobre a mais formosa ria

Cacela-a-Velha, SET2002 © António Baeta Oliveira
É esta quietude de fim-de-tarde, sobre o mar, esta nostalgia, já, do dia que ainda nem acabou, esta angústia da supressão da luz que se adivinha no matizado das cores, o que nos conduz a esta fixação do olhar, a este silêncio invasivo, a este fenecimento doce ao anoitecer?

segunda-feira, setembro 15, 2003

Elegia de Al-Mu'tamid

É o título de um poema, donde extraí este fragmento, evocando Al-Mu'tamid.
Al-Mu'tamid, poeta luso-árabe do séc. XI já aqui foi lembrado várias vezes, como neste link; ainda em Al-Mu'tamid (II) e também ainda em Evocação de Silves.
O poeta hoje é Antonio Gala, espanhol, numa tradução de Adalberto Alves, que nos fala assim do grande poeta do Al-Ândalus:

    (...)
    pergunta a Silves onde começou o júbilo,
    se te recordas. ainda as mesmas palmeiras
    se erguem junto ao mesmo Alcácer,
    a mesma lua, o mesmo rio
    que reflectiu a face de Rumaykya. (*)
    tudo igual e sem ti, e tu igual e sem tudo...
    entre o lago e os jardins
    quantos palácios para nada.

in A PHALA, Junho, nº 49
Assírio & Alvim, Lisboa 1996

(*) 'Itimad ar-Rumaykya, foi esposa de Al-Mu'tamid. Consta tê-la encontrado junto às margens de um rio, que uns entendem ser o Arade, em Silves, outros o Guadalquivir, em Sevilha. Neste poema, Antonio Gala marca esse encontro do príncipe e sua futura esposa no Arade, em Silves. Diz-se que nesse encontro, 'Itimad teria sido mais rápida que Ibn 'Ammar na resposta a um verso que Al-Mu'tamid lançara em desafio. (nota do blogador)

sexta-feira, setembro 12, 2003

Ainda há quem ache graça à praxe?

Ontem desloquei-me aqui bem perto, a Lagoa, para a Festa da Juventude, que ali decorre durante este fim-de-semana.
Não sou um jovem, mas o Sérgio Godinho também não o é. Também acho que estes títulos se usam porque são vendáveis, porque este é o público que mais consome música, o público mais disponível para sair à noite a concertos de ar livre, mais interactivo socialmente, ouvindo ainda os mesmos temas comuns, a facultar identificações sociais.

Pois é. O concerto da noite foi mesmo com Sérgio Godinho.

Deixem-me ainda ficar mais um pouco sem entrar no tema que suscitou este post.
A primeira parte do concerto coube a Camaleão Azul, um projecto musical com ligações ao Algarve, inspirado poeticamente em Fernando Cabrita.
Viviane, que já conhecíamos de "Entre Aspas", nomeadamente com a sua "flor, uma pequena flor...", impõe-se como o rosto deste grupo, onde a sua voz e presença em palco marcam a interpretação dos temas musicais, cuja composição e arranjos, na minha modesta opinião, fazem justiça à sensibilidade poética de Fernando Cabrita.

Sérgio Godinho é outro tom, outra capacidade de comunicação com o público, quase uma encenação. Percorreu, com quase toda a gente a cantar, os velhos temas de sempre e os mais recentes de "O Irmão do Meio".
Era uma bela noite de Lua, cheia, com Marte a seu lado, como um par que partilha com Sérgio os temas sempre recorrentes do amor.

A forte presença da juventude, em tempo de abertura de aulas, em idade de frequentar a universidade ou de se preparar para o seu ingresso, fez-me pensar no tema, interpretado por Sérgio Godinho e que dá o título a este post, a merecer um debate nos blogs.
É-me penoso saber desta humilhação, ano a ano repetida, ano a ano inflingida em nome da tradição académica, num perpetuar de costumes que tiveram a sua época e a sua função, mas que hoje não passam de abuso à dignidade de qualquer dos protagonistas, mesmo quando estes não reconhecem nestas práticas a ausência de qualquer ética e justificação numa sociedade livre e democrática.

quarta-feira, setembro 10, 2003

Em conversa com o Torreão da Porta da Almedina

Silves, Torreão da Almedina © António Baeta Oliveira, SET2003

Aqui permaneces, quase indiferente ao curso do tempo.
Há quantos anos, meu velho Torreão?
Já deverias existir quando os bárbaros cruzados desbarataram a tua cidade, mas foi certamente a reconstrução almoada, pelos finais do século XII, que te deu o aspecto com que hoje te apresentas.
Sim. Salvo algumas máscaras e coberturas, com que te foram conservando e adaptando às diversas vontades e funções, o teu aspecto fundamental deve ter-se mantido bem próximo do que ostentas hoje, quando te olho.
Esse teu olhar sobre a praça em frente não seria o mesmo, seguramente. Parece-me relativamente recente o tipo de gosto que embelezou essa janela por onde me espreitas.
Esses dois apêndices, com flores, dificultam-te a vista?
Usa-los para neles verter as tuas lágrimas?
Duvido que ainda as tenhas, de tanto chorar. Já viste de tudo, não é?
Testemunhaste toda a miséria que se abateu sobre ti após a conquista cristã; ao longo de vários séculos foste assistindo ao assoreamento do rio, à saída do Governo Militar para Lagos, ao envio dos teus filhos para os novos lugares de além-mar, à expulsão de judeus e mouros, ao abandono da Sé pelo seu bispo e respectivo cabido, aos terrores da Inquisição.
Sonhaste, por vezes, como quando da visita de D. Dinis e reconstrução da Catedral, viveste as alegrias da vinda dos que foram a Ceuta (e voltaram), vitoriaste Afonso V quando viste restaurar a ponte e de novo a tua igreja, recebendo a sua visita.
Viveste intensamente as exéquias e depois o traslado de D. João II, a visita de D. Sebastião, para sucumbir de novo perante a perda dos teus melhores nas areias de Alcácer Quibir.
Tremeste e sofreste com o vigoroso terramoto de 1755.
Quase só, foste permanecendo ao longo do tempo, de restauro em restauro, pois tu eras a sempre restaurada, ou não fosses o local onde o poder se exercia, anfitriã ilustre de quem te visitava.
A pouco e pouco foi chegando a cortiça e com ela os corticeiros, os comerciantes, os capitalistas, os administradores das grandes fábricas, os operários e os assalariados, enchendo a tua cidade de gente, de dinheiro, de casas térreas e de prédios, dos novos Paços do Concelho (finalmente!), de bulício, de agitação, de riqueza e de miséria, mas também de ideias novas, de ciência, de tecnologia e de política.
Novas rotas, novos caminhos, novos interesses e a cidade corticeira ruiu num sangradouro que tudo levou: as fábricas, os operários, o capital e o trabalho.
Eis-te agora, esperançada na escola técnica, na barragem, na laranja, no turismo, no 25 de Abril, na Fábrica do Inglês, no Instituto Piaget, na autoestrada, no POLIS, mais uma vez ainda no almejado desassoreamento do rio, no que há-de vir, no que há-de chegar, na esperança, na esperança, na esperança...

terça-feira, setembro 09, 2003

Relações Transatlânticas

Vital Moreira em artigo do Público de hoje, Nós, Os Europeus, a propósito de uma sondagem de opinião sobre as relações transatlânticas e as concepções que os europeus têm dos norte-americanos e vice-versa, refere como um dos resultados mais significativos dessa sondagem:
  • "Particularmente expressiva é a atitude em relação a Israel. Para os norte-americanos, Israel figura entre os cinco países mais estimados (ainda assim em último lugar) e os palestinianos são considerados os menos estimados, ao passo que para cinco dos sete países europeus em causa Israel figura à cabeça dos países menos estimados, à frente da Arábia Saudita, da Síria, da Coreia do Norte e do Irão. O mau nome de Israel na opinião pública europeia, enquanto é filho dilecto da opinião pública norte-americana, é seguramente um dos traços mais significativos deste inquérito."

O artigo acima citado que , mais uma vez, me foi sugerido por Bloguítica Nacional a par de um outro de Teresa de Sousa, curiosamente não contraria o que eu já pensava sobre este assunto, mas a sua confirmação numa sondagem produzida por uma entidade que conta com o apoio, em Portugal, da Fundação Luso-Americana, confere-lhe credibilidade.

(Esta entrada foi corrigida porque neste mesmo local figurava uma afirmação que deveria constar de um comentário de resposta ao post de ontem e que inadvertidamente veio aqui parar. O meu pedido de desculpas a quem ficou "baralhado").

segunda-feira, setembro 08, 2003

O pacífico debate sobre a guerra

Um artigo de opinião de Ana Gomes, no Público, sob o título GNR no Iraque ao Serviço de Quê?, para cuja leitura estou a desafiar-vos, suscitou de BLOGUITICA NACIONAL, sob o título Ana Gomes, o PS e o Iraque (III), para cuja leitura vos desafio agora, um comentário calmo, de bom tom, argumentando com as suas opiniões, sem agitar bandeiras, sem dúbias interpretações do texto em análise.

Gosto do debate sereno, mais esclarecedor do que panfletário, porque não me sinto forçado a tomar posição por qualquer das partes, antes a reflectir e a assegurar-me uma opinião multifacetada, seguramente mais rica do que a que, sobre o assunto, já teria antes destas leituras.

sexta-feira, setembro 05, 2003

Gaivotas

    Caminhamos descalços sobre brasas,
    mas valem-nos as asas
    que ganhámos nos pés.
    Gaivotas inseguras, nós roubamos
    à força com que, leves, caminhamos
    a força das marés.

    Mas já nos atormenta este exercício
    de voo ao desatino.
    Há que mudar de ofício
    e forçar o destino.


Torquato da Luz
Destino do Mar
Edições Margem, Lisboa 1991



quinta-feira, setembro 04, 2003

O Algarve em destaque

Não sou propriamente um regionalista, como também não sou nacionalista; preocupo-me, naturalmente, pelo que me cerca mais de próximo.

A minha natural atenção vai hoje, pela proximidade das Comemorações do Dia da Cidade de Silves, no meu entendimento de que se deveria tratar de um dia de encontro de culturas, para o artigo do Público O Mito da Invasão, de Lucinda Canelas, para o qual fui alertado in Crónicas d'O Falcoeiro. II.
Focalizei ainda a minha atenção na procura de referências àquelas Comemorações. A ausência de qualquer citação, à excepção das deste meu blog ou as que a este blog se dirigem, querem significar que não houve a mínima preocupação por parte da autarquia em emitir um simples comunicado de imprensa.

Chamo agora a atenção para o que justifica o título deste meu post:
Colónias ao Sol e SMS 17 - Grande surpresa, meu Deus! dedicam-se hoje aos blogs algarvios.

Um agradecimento a ESTADO DO ALGARVE e BLOGUICES pelos links que dirigiram para este meu lugar.

quarta-feira, setembro 03, 2003

De Ibn 'Ammar (silvense) para al-Mu'tamid, seu amigo e seu rei


    Nada me move, meu príncipe,
          Senão a tua vontade.
    Contigo vou,
          Como o viajante nocturno
          Guiado pelo clarão dos relâmpagos.
    Queres voltar para a tua amada?
    Vai num rápido veleiro
          E seguirei no teu encalço,
    Ou salta antes para a sela,
          Contigo irei também.
    E quando,
          Graças à protecção divina,
          Chegarmos aos umbrais do teu palácio
    Permite que torne sozinho à minha casa.
    Não percas tempo a sacar a espada!
    Lança-te aos pés da que tem a cintura delicada
    E compensa-a do tempo perdido:
    Beija-a e aperta-a contra o peito.
    E murmurem vossas bocas
    Meigas e doces palavras,
          Como os pássaros se respondem mutuamente
    Em suaves cantos ao romper da alva.


ALVES, Adalberto
O meu coração é árabe
Assírio & Alvim, Lisboa 1987


terça-feira, setembro 02, 2003

Vem aí o 3 de Setembro

Amanhã é Feriado Municipal, é o Dia da Cidade de Silves.


Não comparecerei a nenhuma cerimónia oficial, nem a nenhuma das "animações" agendadas.


Não irei comemorar o 814º aniversário da Conquista de Silves aos Mouros.

Se tiver algum interesse em saber porquê clique na frase sublinhada, ou na que se segue: Ainda a propósito da Conquista de Silves.

segunda-feira, setembro 01, 2003

Assim... suspenso...

Armação de Pêra, © Antonio Baeta Oliveira

...como a pequena gota. Quieta, imponderável, desligada da onda mãe, ausente, incomunicável, presa num momento virtual.

Isto é possível acontecer com uma avaria telefónica, que se registe numa manhã de quinta-feira e se prolongue por todo um fim-de-semana.
Acreditam?