Talvez seja esta a ultima transcrição que farei de Na Barca do Coração, de Casimiro de Brito, deste seu diário do ano 2000, a chegar ao fim.
Com data de 18 de Novembro:
"Globalização: a miséria dos países mais pobres e das classes mais pobres dos países ricos - já não comove. Já não surpreende ninguém. Banalizou-se. A não ser que haja (ou se fabrique no centro das imagens) um fait divers. Que se monte um espectáculo. É desolador. Uma espécie de prazer da indiferença? Do "não me vêem, não me fazem mal"? É o tempo da iliteracia e das seitas e dos mágicos para todos os gostos. Eles não querem morrer, querem é dormir, esquecer. Querem não ser. Amnésia. Uma árvore onde os pequenos galhos se multiplicam. E saltam de um galho para outro, silenciosos, videirinhos. A multidão está no chão, convulsa, compacta, esmagando-se."
Afinal não resisto a outra transcrição, dado que, como comentou Casimiro:
"(...) O maldito ofício de poeta. Resumir, com palavras mortas, a matéria viva (crua, cruel) do mundo.(...)"
Com data de 16 de Novembro:
"Às armas de Israel responderemos com as nossas almas", disse Arafat. Almas/armas, não sei se funciona em árabe, mas em português já li "almas brancas" por "armas brancas". E, não sei onde, "almas armadilhadas".
2 comentários:
Como sabemos e como lemos, aqui, Casimiro de Brito não é só um dos nossos maiores poetas, mas a sua literatura, sempre foi marcada por uma grande alma profética. Nem mais.
Abraço do Helder.
A troca de arma por alma é uma bela atitude profética, de quem possa,verdadeiramente, possuir almas nucleares.
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