terça-feira, novembro 02, 2004

SONETO

Terminada a evocação dos poetas de Poesia 61, permitam-me ficar, um pouco mais, com um poeta deste meu Algarve, que me fez companhia, com os seus poemas, numa daquelas tardes chuvosas da semana que findou.

Nuno Júdice

        • SONETO

          Durante estes anos, outonos e invernos,
          na melancolia de tardes de piano e alaúde,
          a chuva caiu com os seus vagares eternos,
          fez-se noite como cai um tampo de ataúde.

          E dediquei-me a registar estas mudanças,
          a ver a diferença entre negro e cinzento,
          ouvindo a música de um choro de crianças
          e o eco sombrio de um fundo lamento.

          Talvez o amor me servisse de horizonte
          se não fosse esta névoa sobre o mar.
          Poderia a manhã nascer de qualquer lugar

          como se a luz brotasse de alguma fonte.
          Acordo a alma com um brusco empurrão,
          e mostro-lhe a vida num aceno de mão.

      Nuno Júdice
      Rimas e Contas, 2000



1 comentário:

Anónimo disse...

TOY,
adoro poesia e tenho acompanhado esta "evocação dos poetas". Estás de parabéns!
Beijinhos, a tua namorada
(Nelita)*