Terminada a evocação dos poetas de Poesia 61, permitam-me ficar, um pouco mais, com um poeta deste meu Algarve, que me fez companhia, com os seus poemas, numa daquelas tardes chuvosas da semana que findou.
Nuno Júdice
- SONETO
Durante estes anos, outonos e invernos,
na melancolia de tardes de piano e alaúde,
a chuva caiu com os seus vagares eternos,
fez-se noite como cai um tampo de ataúde.
E dediquei-me a registar estas mudanças,
a ver a diferença entre negro e cinzento,
ouvindo a música de um choro de crianças
e o eco sombrio de um fundo lamento.
Talvez o amor me servisse de horizonte
se não fosse esta névoa sobre o mar.
Poderia a manhã nascer de qualquer lugar
como se a luz brotasse de alguma fonte.
Acordo a alma com um brusco empurrão,
e mostro-lhe a vida num aceno de mão.
Nuno Júdice
Rimas e Contas, 2000
1 comentário:
TOY,
adoro poesia e tenho acompanhado esta "evocação dos poetas". Estás de parabéns!
Beijinhos, a tua namorada
(Nelita)*
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