Torquato da Luz foi meu amigo de infância, em Alcantarilha.
Quando terminámos o ensino primário, rumámos a diferentes locais para continuar a estudar. Fomo-nos encontrando esporadicamente durante algum tempo, mas não nos vemos há bem mais de trinta anos.
Foi mais fácil para mim seguir o seu percurso do que ele o meu, pois jornalista em Faro, Lisboa e Porto, mais tarde director, de jornais e do 2º canal da RTP, ganhou uma visibilidade mediática que me permitiu ir sabendo coisas de si.
É curioso, agora que escrevo, pensar no porquê de uma amizade que deveria ter terminado aos 10 anos de idade, quando nos separámos. Quantos amigos ao longo da vida já terei esquecido? Quantos colegas não mais recordei ou conseguirei recordar? Porquê o Torquato e alguns mais dos meus tempos de infância, outros da adolescência, ficaram amigos para sempre, mesmo que não nos vejamos, nem saibamos por vezes do seu paradeiro?
É uma amizade como se nos conhecêssemos por dentro.
Nem me lembro já de que forma passamos a comunicar com alguma regularidade nestes últimos tempos, por email ou comentários aqui, no blog, mas a memória afectiva guarda a espontaneidade de uma amizade de há dezenas de anos, sem nos vermos, como num encontro de amigos que se tivessem visto no dia anterior.
Hoje é dia de mais um aniversário do Torquato.
Por isso, este seu poema dedicado à terra que o viu nascer:
- Alcantarilha
Aqui é que sou eu
aqui é que estou certo.
Regaço a que regresso
natural e liberto
neste chão que é o meu
me recomeço.
Um outro seu poema ainda, a Silves, a terra de quatro gerações de familiares que me antecederam (que eu saiba, pelo menos):
- Silves
Para além desta porta não há nada
e esta escada
pára de súbito no ar.
E que dizer da janela
também ela
que já não dá para o mar?
Nada diremos
nada.
Na memória arruinada
só persiste o apelo:
reter nas mãos o momento
bebê-lo até ao fim
bebê-lo lento
no esplêndido ondular do teu cabelo.
2 comentários:
Toy,
Só posso dizer que fiquei muito emocionado com este "post" e a mensagem que me enviaste. O coração bateu mais forte e determinado a prosseguir a alegria de viver. Muito obrigado por tudo e mais um abraço!
António, parabéns ao Torquato pelo seu aniversário e por ter amigos como tu.
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